A convite da portografia – Associação Fotográfica do Porto, o
repórter da “Gazeta da Fraguinha” acompanhou, no passado dia 25 de Junho,
parte do Passeio Fotográfico “Montanhas
Mágicas”. O que se segue são apontamentos esparsos dessa jornada.
Vindos
de vários pontos cardeais, os destemidos madrugadores, equipados a rigor,
convergiram para o ponto de partida, ao km 295 da A1.
Em
filinha, seis veículos, carregados de fundadas expectativas, avançaram até ao
centro de Carregosa onde mais um expedicionário se juntou à caravana.
Daí
em diante percorreram-se, frase do Presidente, “as muito (mais) bonitas
estradas nacionais”.
Após
(muitas) curvas e contracurvas, a primeira paragem, já nas Montanhas Mágicas: o
planalto da Senhora da Lage.
Nuvens
baixas envolviam o cenário, com algumas nesgas por onde se vislumbrava algum
azul.
Câmaras
fotográficas em riste, os passeantes deambularam pelo local e, à laia de
aquecimento, foram clicando.
Uns
quantos, mais entusiasmados em descobrir ângulos menos óbvios, embrenharam-se
em zonas de vegetação rasteira. Nada de especial a não ser, o repórter soube-o
mais tarde, que os pés ficaram ensopados. Escondida na vegetação, muita água
havia das chuvadas da madrugada. Sem dramas, a humidade seria mitigada algum
tempo depois, em outras paragens, com botas, meias e pés distendidos ao sol.
Por
essa altura, em surdina ou de forma mais audível, questionavam-se: “com estas
nuvens será possível o exercício de astrofotografia ?”. O mestre na arte
elucidou os mais cépticos: “por vezes, em astrofotografia, as nuvens até dão
algum jeito…”.
Algum
alvoroço. Algo de especial surgiu vindo da bagageira de um jipe: uma cadeira,
modelo ‘realizador’. Toda de preto colorida. Pelo bruá, o repórter apercebeu-se
que será um objecto de culto. Posta entre pedras e ervas, ali permaneceu para
que os fotógrafos se aventurassem em registos criativos.
Havia
que prosseguir. Adiante uma paragem no miradouro da Mizarela. Cenário digno da
National Geographic. E a queda de água, da altura de uns sessenta metros era a
atração. Ao longe, no cume de uma elevação, uma torre cilíndrica encimada por
uma grande esfera. Torre Meteorológica diz a legenda no miradouro. Aí, o
repórter alvitrou: ”deve ser o radar da Força Aérea”. Ledo engano. Mais tarde
constatou que ainda existe o tal para ajuda dos aviões mas noutro ponto
próximo, a norte daquele ponto de observação.
Hora
de avançar. Já havia quem suspirasse pelo almoço. Mais a mais avistaram-se umas
rezes da raça arouquesa a pastarem nas escarpas próximas.
Ladeada
a povoação da ora denominada Albergaria da Serra (em tempos, Albergaria das
Cabras. “E dos cabrões que por lá passam”, ouvi, faz muitos anos, de um
nativo).
Amplos
horizontes nos aguardavam. Um dédalo de estreitas estradas, caminhos e
carreiros pela frente. Em sentido contrário, ciclistas, em grupos ou isolados,
pedalavam, pedalavam. Direi mesmo, em pedalada furiosa, ofegantes. Como se
fugissem de algo aterrador. Diga-se neste ponto que eram participantes de uma
prova de Trail (100 kms na versão mais dura).
A
placa na berma indica: "Pedras
Boroas”. Havia que cumprir o roteiro. Um pequeno desvio da estreita estrada
e ali estava o dito afloramento granítico em que a superfície de parte dos -
com o devido respeito – pedregulhos remete visualmente para a crosta de uma
boroa cozida no forno.
“Parece-se
com a broa de Avintes !” exclamou um. Como se dirá: “boroa” ou “broa” ? lançou
outro abrindo uma erudita discussão. Como o Dr. Google estava indisponível
ficou a pairar a dúvida. Nota: ambos vocábulos estão correctos. “boroa” é
antiga expressão que evoluiu para ‘broa’.
Um
desvio para alcançar Castanheira, terra-mãe das pedras parideiras.
Explicações científicas à parte, retenha-se o que na Wikipédia é dito: “As Pedras Parideiras simbolizam
a fertilidade na tradição ancestral da região, esta tradição está ainda
presente nas populações locais. Acredita-se que dormir com uma pedra parideira
debaixo da almofada aumenta a fertilidade.”
Junto
ao local marcado e demarcado das tais parideiras, uma habitante, de provecta
idade, toda de negra vestida, estava sentada tentando os turistas ocasionais à
compra, não usando esse termo por mor de consequências fiscais (não passa
factura nem cobra IVA). Talvez por isso não autorizou que fosse fotografada. O Sr.
Presidente sentou-se próximo da dita. Conversaram, conversaram.
“Ó senhora, tem ar de professora. Leve umas
pedrinhas para os seus alunos”. Não teve sucesso. Outros interessados
virão.
Impunha-se
rumar até Manhouce, local aprazado para o ansiado almoço. A ‘Casa Barreira’
aguardava-nos. Bebidos uns aperitivos, umas trocas de impressões e, ala que se
faz tarde.
Restaurante
singelo, sem estrelas Michelin (outras estrelas aguardam o grupo lá mais para a
noite). A carne arouquesa assada bem guarnecida por batata e arroz não
defraudou as fundadas expectativas. Um almoço frugal claro.
Entretanto,
o repórter escutou: “ Não passará a fotografia de um pretexto para muitas
outras coisas?”.
Antes
que a torpeza pós almoço se instalasse soou a ordem de partida. Entrava-se na
serra da Arada. Travessia de aldeias feita, um carrossel de sob-e-desce e
aportámos numa planície rodeada de colinas, mescladas de agrestes pedras e
vegetação abundante com predominância de bétulas. Vislumbra-se uma lagoa ou
lago que (ainda) retém água que escorre de pequenos fios de água montanhas
abaixo. Lago da Garça (que não
vislumbrámos) será o seu título.
Próximo,
o Retiro da Fraguinha. Parque de
campismo onde terminava, por assim dizer, a primeira grande etapa. Uns quantos
ali armaram literalmente barraca, perdão, tendas para a previsível curta
pernoita por mor da sessão de astrofotografia.
O repórter, por razões de outros afazeres e compromissos, deu por findos os seus serviços que, registe-se, tiveram o alto patrocínio da Direcção da Portografia.
“Não tires mais que fotografias e não deixes mais que pegadas” interessante frase exibida num pedaço de lousa posta em sossego na esplanada do Retiro.
CC